terça-feira, 24 de setembro de 2013

45. R de Ruínas



Ruínas

De alvoroçado bramido se me fez o dia.
Eram os teus lábios que eu procurava
E apenas o som da telefonia me distraia o sonho.
Havia balas escondidas esperando canhões
E canhões invadidos com flores.
E os teus lábios não clamavam pelos meus
Porque ocupados estavam a gritar Liberdade.
Eu queria morder-te a palavra, sôfrego dela,
Mas as capas dos jornais desviavam-me o olhar.
E então os teus olhos refletiam espingardas
Ornadas de cravos e o ruído ensurdecedor
Da multidão ecoava no Carmo.
Hoje apenas sobram os teus lábios.

Tudo o resto não passa de ruínas.

terça-feira, 23 de julho de 2013

44. Q de de Quintilha



Quintilha

Nos fins de tarde em que o Sol pinta os céus de amarelo e púrpura é como se toda a vida eu fosse impuro, quiçá ateu. Serão os efeitos cromáticos que me alteram a alma e que só tu sejas a fonte da minha adoração? Os Deuses do Céu que me perdoem mas fizeram-te mulher e a mim homem e puseram no céu o astro-rei. Tudo se conjugou mulher, homem, luz e as cores do dia quando cai. Se romântico fora, correria até à linha do horizonte com um grão de areia capaz de parar a engrenagem que faz mover os astros e pararia o Sol no pôr-do-dito. E faria de ti a minha silhueta, realçaria os teus seios a contraluz e empurrávamo-nos contra o chão húmido da praia. E rebolaríamos na areia e faríamos amor contemplando o céu. E as suas cores.


Longe o dia cai no horizonte
Brilham fortes cores mistas no céu
Me confesso impuro, quiçá ateu
Por só a ti amar, ó minha fonte
E no areal te possuir, amor meu.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

43. P de Palavras




Palavras ditas

Palavras. Palavras, mais palavras.
Ouço-as demagógicas, matracas
Ouço-as meigas, doces convites
Ouço-as ásperas que ferem
Ouço-as vãs, ouço-as ocas.
Palavras. Palavras que são só palavras.
Ouço-as suplicantes ou não as ouço,
Ouço-as desesperadas, clamantes
Ouço-as cantantes, harmoniosas, compassadas.
Ouço palavras que não são só palavras.
Ouço-as luxuriantes, palavras excitantes.
Ouço palavras que não parecem só palavras.
Ouço-as declamadas, teatrais
Ouço-os obscenas, ofensivas
Ouço palavras cuspidas, violentas.
Ouço-as lastimosas, chorosas
Ouço-as catitas, elogiosas.
Ouço palavras que se empancam e palavras que resvalam.
Ouço-as brilhantes, eloquentes
Ouço-as comedidas, parcas
Ouço-as retóricas, embrulhadas, trapalhonas
Ouço-as convincentes, com ordem e de ordem.
Ouço palavras que não o são.
Ouço-as titubeantes, gaguejadas, incompletas
Ouço-as medrosas, hesitantes e nervosas
Ouço-as repetidas, metralhadas
Ouço-as alegres, risonhas, contagiantes
Ouço-as contadas, acrescentadas, mentidas
Ouço-as falsas, intriguistas
Ouço-as curiosas, inquiridoras
Ouço-as sussurradas, secretas
Ouço-as rápidas, cursivas, intensas
Ouço-as lentas, pausadas, refletidas
Ouço-as sábias, filosóficas
Ouço as palavras que escrevo.


sábado, 13 de julho de 2013

42. O de Obscenidade



Obscena

Siderado me quedo
Da indiferença do teu olhar,
Quando apenas para ti me peralvilho.

Palejante se me aparenta a face
Da prostituída expressão
Com que me reprovas.

Eu, que por ti, me reverbero
Nem um telegráfico olhar
Te já mereço.

É por isso que hoje quebro
O sigilo a que me encomendei

E te denuncio, obscena.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

41. N de Nau



Nau

Navego em turbulentas águas
Revoltas nos elos do meu cérebro.
É um emaranhado fluido de ideias vagas,
Não, não são vagas as vagas que o inundam.

Se me faço ao mar afogo-me em presságios
Que melancolicamente percorrem a rosa-dos-ventos.
Se me fico pelo cais temo a vaga que se agiganta,
Não, não são vagas as vagas onde balanço.

Desfaço-me confuso na escuma de milhões de gotas
Já me escasseia o oxigénio que clareia o marujar.
E de nordeste cresce a imponente vaga,
Não, não são vagas as vagas do meu tsunami.

E nem a Nau que a porto me aporte, me aportará
Se a estibordo não há estrelas e bombordo não enxergo.
Então desfaleço na imensidão perpétua da cruel vaga.
Ah! Como não são vagas, as vagas que me aproam. 


sexta-feira, 5 de abril de 2013

40. M de Memorial



Equipamento original do escritório do grande escritor, prémio Nobel da literatura, José Saramago. Provavelmente desta máquina de escrever saiu o primeiro Memorial do Convento.

terça-feira, 26 de março de 2013

39. L de Léxico


É tão grande a riqueza do vocabulário português que acho absolutamente despropositada a contínua discussão do Acordo Ortográfico




Paixão e sangue

Fora eu altiloquente
E dir-te-ia quanto
O meu coração, atormentado e cruento
Se torna num efeminado plangente.

Não, não são dislates,
É este desamoroso amor
Que dia a dia recrudesce.

Mas tu, tirana, nem notas
Quanto os meus olhos são círios
Cuja eupatia os transformam, por ora,
Numa apenas ténue luz.

E tu, encasulada qual crisálida,
Cobrindo pudicamente
Teu púbis de encacho,
Numa lutulenta felonia
Verborreias balestilhas
Como se o sustentáculo
Da minha paixão
Fosse um cagalhão de concupiscência.

segunda-feira, 18 de março de 2013

38. K uma letra no joKer




Joker

Quando achares que te vejo com os olhos que te não vejo,
Ou pensares que me afasto, mesmo se a proximidade do teu corpo me incendeia.
Quando quiseres que me vá sem que eu não queira partir
ou os teus olhos embaçarem quando os meus cruzarem os teus.
Quando renegares as minhas eternas juras de amor
ou recusares os meus lábios na sofreguidão de um beijo.
Quando desatares nas tuas pernas os apertados nós das minhas
ou te secarem as coxas na virilidade da minha presença.
Quando ficares indiferente às súplicas do meu beijo
ou teimares em ir quando te reclamo aqui.
Sentir-me-ei apenas uma carta fora do baralho.

sexta-feira, 1 de março de 2013

37. J de Jangada





Jangada

Pulei vales, subi montes,
Corri por estradas vazias
Bebi água em secas fontes
Perdi noites, ganhei dias.

Cercas de arame farpado
Por todas elas passei,
Quantas vezes dilacerado
Foi meu corpo, já não sei.

Não hesitei na viagem
Com medo de te perder
Mas era apenas miragem
Nunca mais te ia ter

Construí uma jangada
Por isso me fiz ao mar,
Perdido, não tenho nada
Só a saudade de te amar.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

36. I de Ilha



ILHA


Naufrago.
Em noite que te não tenho, naufrago.
Sinto-me um náufrago sem os teus braços,
perco-me no mar que os lençóis agitam,
navego nas penas do edredon que me cobre
flutuo em sonhos eivados de sereias,
procuro as tuas coxas como se fossem balsas
e lanço verylighs de desespero.
Mas de manhã,
quando o calor do teu corpo já me inunda
de resplandecentes sois,
somem-se as inquietações.
Não, não és apenas um porto de abrigo.
És a minha ilha.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

35. H de Hoje



Hoje, 14 de Fevereiro


Hoje, quando rasguei a capa
e cobri o teu corpo nu, tremendo
e tu disseste “obrigada”, tive uma visão.
Nesse corpo onde me enleio,
dessa boca onde a minha boca
faz residência,
não deveria haver outra capa
que te cobrisse que não fosse
a epiderme do meu corpo,
que não fossem musicais palavras
de lascívia e desejo.
Por isso, quando fiz tudo ao
invés do que devia
vi-me em mim um São Valentim.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

33. F de Fascínio





És esse pranto de azul povoado de lágrimas
És esse aroma inconfundível de mil iodos
És esse murmúrio marujante das calmas ondas dormindo
És o ribombar do trovão nas indomáveis vagas erguidas
És o sinal da partida para lá do horizonte
És o delicioso fruto do teu próprio ventre
És o campo de batalhas do meu já morto imaginário
És o covil de piratas de negras flâmulas içadas
És o cemitério de condenados escravos e  de cruéis capitães
És a circum-estrada da navegável história
És o museu vivo das galés e das quinhentistas caravelas
És o pasto onde se alimentam de Odisseias escritores
És o canto sumptuoso e tentador de garbosas sereias
És tu mesmo a sereia meio mulher e outra metade qualquer
És essa planície ondulante de invisíveis espigais
És o fado e o destino destas costas que humedeces
És a casa de cantados e temidos adamastores
És o choro de noivas nunca noivadas
És o véu negro de tristes viúvas e mães
És o prazeiroso refresco de amores em corpos ardentes
És essa incógnita profundeza de tetónicas falhas
És o espelho das alvas e soalheiras manhãs
És o manto doirado dos tranquilas crepúsculos
És a cama do rei astro quando o dia lhe finda
És o princípio e o fim da viagem
És fascínio, és vida e és morte.
És mar.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

32. E de Escolhos




Escolhos

Estradas,
errantes caminhos,
enlameadas azinhagas,
becos e ruas,
passos trôpegos,
escolhos.
Homens e mulheres caminhando
carros buzinando,
carroças se esforçando por subir
veredas de água e pó,
bois que baixam os cornos no esforço.
Ruas esconsas,
travessas e avenidas
escadarias e alamedas,
homens e mulheres dormindo
em cartões que se dobram no corpo.
Chuva que molha as calçadas
saltos que se quebram nas juntas,
juntas que puxam carroças,
corpos que sobem curvados.
Homens e mulheres que baixam a cabeça
como se fossem juntas puxando carroças.
Escolhos,
becos,
calçadas,
caminhos insalubres da vida.
Juntas que baixam os cornos
nos entroncamentos sem saberem por onde ir.
Sem abrigo e sem escolhas.
Só escolhos.



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

31. D de dança



Ninguém dança como a abelha

Aquela valsa que dançamos nos salões do Schönbrunn
é já uma ténue memória.
Tal como o tango
nas ruas de Buenos Aires, 
quando aquele rapaz 
de camisa às ricas, chapéu de palha
e lenço com um nó no pescoço
te envolveu num tango figurado.
No fim, bom, no fim ainda lhe dei uma moeda...
Coisa pouca para tanta arte e ele agradeceu.
Depois, comentamos que ele precisaria de umas calças novas
que as que vestia eram-lhe muito apertadas.
E rimos. Rimos muito.
Saímos na escola de samba.
Se bem me lembro, estão a fazer uns dez anos.
Ou dez minutos. Ou terá sido há alguns instantes?
Só me lembro do teu sorriso de morena,
o rebolar das tuas ancas,
e do movimento dos teus pés.
Mexias bem os pés, morena.
E eu, dentes muito brancos, ria. Eu só ria.
E também mexia bem os pés.
Dançamos até uma rumba nas Caraíbas.
Foi na piscina.
De repente,
oh como essas coisas aconteciam de repente,
de repente, uma onda de música invadiu-nos a piscina
e nós,
como se uma mola tivessemos,
saltamos e dançamos a rumba.
Depressa a piscina se tornou um salão de baile,
dançavamos todos,
e orquestra tocava.
Espera!
Não era rumba,
agora me lembro.
Era salsa!
Sim era salsa. Dançavamos todos.
Eramos mais de cem pares, não éramos?
Acho que éramos,
mais de cem!
Bom, uns cem não seríamos, 
mas olha que poucos faltavam,
poucos faltavam,
sim, poucos faltavam.
Já não havia piscina,
Foi em Paris,
aquelas moças vieram pedir-nos para que saltassemos para o palco.
Eu não fui, mas tu sim.
Tinhas um vestido novo,
de saia rodada
e usavas umas cuecas do tempo da tua avó.
O que eu ri.
Eu sempre rio nestas situações,
com os dentes muito brancos
a rir das rendas das tuas cuecas
junto às canelas,
apertadas com uma fita de nastro.
E tu levantavas as saias.
Sempre achei que dançavas can-can melhor do que as outras,
mas nunca te disse nada.
Aliás, como ainda hoje
sou incapaz de te dizer
que és muito melhor
a dançar  a polka
do que aquelas raparigas 
americanas de saia de xadrez
que apareceram cá em casa no outro dia.
Mas pronto,
sei que não te devo gabar,
tu ainda andas à procura da perfeição
e eu respeito-te.
Olha,
agora reparo,
já não és morena
e já não sabes dançar o samba.
Quem te manda passares dias e noites
a ouvir Nat King Cole?
Deves estar a querer desafiar-me para um bolero,
mas eu não posso.
Tu sabes que eu não posso.
Tu bem sabes que me doem os joelhos,
já não sou novo,
não tenho a tua idade.
Ainda ontem to disse
e parece que te esqueceste.
Porque é que eu casei com uma mulher mais nova do que eu?
Se calhar estava distraído,
estava a rir,
eu sempre estou a rir.
Mas tu danças bem bolero,
mesmo quebrando as regras
de te não elogiar,
tenho de confessar:
- Danças bem o bolero.
Tomara eu.
E como rodopias, debaixo do braço do teu par.
e cais-lhe nos braços sem que ele te deixe cair.
És leve.
Mas o que ainda não sabes
é que ontem,
sim ontem,
nem deste por isso.
Cada vez te acho mais distante, mais distraída.
Nem deste conta que ontem
eu dancei um passedoble.
Ah pois dancei,
foi em Sevilha,
mesmo, mesmo junto à Catedral.
Tinha acabado a corrida,
o Manolete, toureou bem não toureou?
Diz-me cá, não gostas de ver o Manolete lidar?
Sim, sim,
sei que gostas,
eram cinco da tarde,
estava sol,
o touro era Miúra,
dizem que era Miúra...
e como Manolete dançava!
Manolete dançava muito bem em frente ao touro.
Eram cinco horas da tarde, em ponto.
Depois fomos dançar,
dançamos até Flamenco.
O Paco toca bem viola.
Toca sim, toca bem viola.
Mas tenho andado a pensar
que vou voltar a ser leve.
Vamos dançar os dois,
naquela pista de nuvens,
vamos dançar danças de todo o mundo,
clássicas e populares,
vamos ser leves
e vestimos aquelas nossas roupas brancas.
Eu visto o meu fato completo.
E não hei-de esquecer a gravata.
Toda branquinha,
toda,
toda branquinha a condizer com a jaqueta.
Calça branca, colete branco, jaqueta branca.
E a camisa é branca. De seda!
E a gravata também.
Já a passaste a ferro?
Sim, pergunto porque vi lá uma ruga
e não se dança ao som de uma harpa
com rugas na gravata.
Não, isso não. Tu sabes. Já tínhamos falado sobre isso.
E os sapatos também são brancos.
São novos. Comprei-os há pouco tempo.
Também comprei meias brancas.
Está tudo no guarda-fato.
Querias-me fazer surpresa, não querias?
Eu também lá vi o teu vestido branco.
Pois levamos, claro que não nos podemos esquecer.
As asas, não é?
Sim as asas.
Levamo-las sim.
Também são brancas.
E dançaremos nas nuvens.
Não te preocupes,
não quero que nos apressemos,
temos uma nuvem reservada,
é só para nós
e a música da harpa...
o que é que queres que o anjo toque?
Sim, pode ser isso,
mas agora desliga-me a campainha
desse maldito despertador.
Essa música não dá para dançar
e ainda te quero mais alguns minutos
nos meus braços.
Desliga,
desliga essa coisa.
Por favor.
Desliga.
Sei que estou a rir,
mas por favor,
desliga essa maldita campainha.



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

30. C de cornos



Cornos

Dizem que o pobre Manel
era um artista em marrada,
briga na rua ou bordel
ia tudo à cabeçada.

Força tinha no pescoço
cartava água à chinesa,
fazia-o já desde moço
e fazia-o com firmeza.

Só não gostava da alcunha
que lhe botaram miúdo,
o Tomás é testemunha,
chamavam-lhe cabeçudo

Tomás o melhor amigo
com o Manel a disputou.
Francelina, ai que castigo,
foi ao Manel que calhou.

Passados tempos então,
a Lina deu-se a Tomás
Manel com um cabeção
Foi-se a ele zás, catrapás.

Deu-lhe tamanha marrada
que se gritava, Ai Jesus.
E diz Francelina, pasmada
"Tu tens uns cornos de truz!"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

29. B de belo



Belo

O azul resplandecente do mar,
O canto do rouxinol,
“As Três Graças” de Rafael,
O nascimento de um filho,
A quinta sinfonia de Beethoven,
O esplendoroso monte Fuji,
Uma trovoada sobre o Índico,
Callas cantando “Die Walküre”,
A metamorfose de uma Monarca,
O vibrar de um Stradivarius,
Uma aurora boreal,
Um campo de girassóis no Alentejo,
A lua-de-mel,
O bolero tocado pelo sax de Jurandy,
Um crepúsculo no Taj Mahal,
Uma orquídea selvagem,
Somewhere over the rainbow,
Um golo de Eusébio,
O vestido de noiva de Diana Spencer,
As pernas da Beyoncé,
O dia da libertação de Nelson Mandela,
“A Criação de Adão” de Miguel Ângelo,
Os jardins suspensos da Babilonia,
O Machu Pichu,
Um botão de rosa amarela,
“O meu pé de laranja-lima”
E o teu sorriso.



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

28. A de Arder



Arde em meu peito


Arde em meu peito
A insaciável loucura
Da paixão.
Arde em meu peito
A flâmula incontrolável
Da loucura.
Arde em meu peito
A doçura cintilante
Da flâmula.
Arde em meu peito
A gulosa carícia
Da doçura.
Arde em meu peito
A desesperante espera
De uma carícia.
Arde em meu peito
O anseio do fim
De uma espera.
Arde em meu peito
O sufocante desespero
Do fim.
Arde em meu peito
A paixão,
A loucura,
A flâmula,
O desespero,
O fim.
Arde em meu peito.
Arde.


sábado, 19 de janeiro de 2013

27. Z de Zurzir





Zurza

Não te podem chamar zabaneira
apenas porque zabumbas te anunciam
em teus zebrais indumentos.
Eras uma simples zagala quando te conheci
E de mim ébrio de zegre
como um zeimão, um sem-cabeça,
zelaste, sem intenções segundas.
Zaralhas e zarelhas tentam destruir
os zambujais que juntos construímos,
mas a nossa relação está no zénite.
Zoilos e zoilas!
Não passam de reles zoilos e zoilas,
Zombemos deles pois não são mais que zigotos
E riremos.
Riremos até que nos apelidem de zotes.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

25. X de Xávega



Xávega



Eles fazem os dias assim.
Remendam xávegas de agulha em riste
Aprontam artes pra colher o pão,
Lavram o mar, semeiam lutos,
Regressam ou não.

Eles fazem os dias assim.
Enfrentam tormentas, grandes desafios
Cercam a seara que lhes dá o pão,
Ao sol ou à chuva, no dilacerante vento.
Regressam ou não.

Eles fazem os dias assim.
Viúvas na praia já não choram homem
Agora os cadilhos saíram do ventre
Tormentos dobrados, aqueles que são.
Regressam ou não.

Nas redes em terra, do mar tragados
Crepitam badejos, sardinhas, pimpões
Da barriga ao saco se acolhem, amassam.
Eles fazem os dias assim.
Regressaram, sim.


domingo, 13 de janeiro de 2013

24. W de Windows



Foto tirada no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo (2012) numa sala de aprendizagem de informática para seniores.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

22. U de uso





Usa-me sempre!


Usa-me!
Hoje não quero afeto,
Não quero amor,
Não quero paixão.
Usa-me!
Deixa que o laxismo te tolde
De imoralidades mil,
De desejos mais.
Usa-me!
Faz de mim teu objeto
Perdido
Que um dia achaste,
Teu brinquedo novo,
Teu brinco de uma orelha só,
Teu perfume.
Usa-me!
Usa-me,
Como se eu fosse o teu
Presente de aniversário
A tua fronha de almofada,
O sabão que te afaga a pele.
Usa-me!
Sou o teu cinto-liga,
Sou a tua blusa,
Sou o teu batom.
Sou teu anel,
Tua gargantilha
Teu rimmel,
Teu blush,
Teu rubi,
Tua ametista.
Usa-me!
Usa-me sempre,
Usa-me sempre,
Usa-me em cada dia.
Mas hoje,
Só hoje,
Abusa-me!

sábado, 5 de janeiro de 2013

21. T de Teia




Teia

De sedosos fios me enleias
Em caçador capricho.
Atenta, paciente esperas
Que distraído caia no teu enredo.
Depois, insaciável,
Atacas.
Testas-me sem nunca me libertares
E devoras-me.
E eu, passivo, assisto ao meu fim.
Não tenho meios para me libertar,
Nem quero.
Aranha dos meus sonhos,
Extasiantes momentos
De lascívia, de insana luxúria.
Quero apenas ser a tua presa.