domingo, 14 de dezembro de 2014

50. X de Xavi


Fecha a boca quando vê a colher
Mas abre-la pra rir à gargalhada
"Não se ralem por eu não querer comer
pois como alegria à colherada"

Tem uma franja à estrela de rock
Toca xilofone e dá na bateria
"O meu avô gosta que eu toque
E acompanha-me nessa folia"

Tem dez meses e já faz tem-tem
dá chutos numa bola e grita golo
"só não digo pai nem digo mãe
primeiro vai ser avô, que me dá colo"

Adora a avó que lhe muda a fraldinha                       
e que com ele todo o dia fica
" mas prefiro a mamã que dá maminha
e o avô que grita golo do Benfica"

5/12/2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

49. V de Vade retro



Livrai-me Senhor

Socorro, socorro
Que Deus me ajude
a tomar a atitude
quando não, eu morro.

Estou farto de estar
por aqui a clamar
contra imbecis
e outros seres vis
mas foi Deus que quis
que os deva aturar.

E do mal que perdura
que há muito que dura
que me tapa a veia
é uma mão cheia
uma autêntica teia
o amor à gordura

Livra-me disso
e do pão com chouriço
E maçar não quero não,
peço pouco então
as moscas no verão
E pronto é só isso!

©Vítor Fernandes
11-11-2014

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

48. U de ultraje



Montanha

E o vento soprava gélido e eu lá estava,
batia-me o coração  num ritmo descompassado
 e as minha pernas tremiam.
A pele engelhava-se-me, mas eu não envelhecia.
Os homens paravam estarrecidos
e eu, confesso, tive ciúmes.
(Oh vil! oh reles! oh bastardo!
Não vales nada, ciúme infame...
Oh inquietude que não supero
Vade retro mesquinha e torpe agonia).
Do lado da montanha soprava o vento.
Gélido e eu lá estava,
porque tu te impunhas e a ofuscavas.
Atrás de ti só a montanha que sopra ventos.
E outros homens te cobiçavam
E o biltre e ignóbil ciúme me arrastava
para a montanha, roubando-me de ti.
Gélido!


© Vítor Fernandes

sábado, 8 de março de 2014

47. T de Ternura




Ternura

Se um dia te escrevesse um poema,
começaria com um rascunho.
Um esboço de medo, passeiro...
compartimentado.
Talvez em quarteis.
Sim, assim seria. Em quarteis.
No primeiro, sonhador,
desenharia as palavras com o carvão da utopia.
No segundo, aventureiro,
sequestrava-as.
No terceiro, acabrunhado,
plissava folhas de papel
e em cada prega deixaria uma...
timidamente escondida.
E no último, porque é  o quarto,
libertaria a poesia.
Deixaria que as tuas mãos, serenas,
as roubassem de cada plicatura
e as aventassem, ditas dúcteis
pl'os teus lábios.
Ternas são as noites de poema.

Vítor Fernandes © março / 2014


domingo, 26 de janeiro de 2014

46. S de Sofreguidão



Sofro de sôfrego que sou de ti fada branca dos meus sonhos.
Devoro, sôfrego também, os flocos de neve
que tombam e me gelam a alma
e há anjos de alvas plumas que tangem liras
e sorrisos.
Sôfrego de ti, sacudo o pó das noites
e atravesso a espuma dos anjos, mas tu,
de tão alva como eles fazes-me perder,
E perco-te.
Se te infiro, perscruto-me em labirintos
de nuvens, mais sôfrego ainda, e tropeço
em novelos de nada que orlam caminhos para nenhures.
Ouves-me respirar em suspiros cavados
como se esta sofreguidão de te ter
me esmagasse o peito
e feres-me de não te poder ter.
Consumamos de olhos bem fechados
num beijo
toda esta sofreguidão.