terça-feira, 26 de março de 2013

39. L de Léxico


É tão grande a riqueza do vocabulário português que acho absolutamente despropositada a contínua discussão do Acordo Ortográfico




Paixão e sangue

Fora eu altiloquente
E dir-te-ia quanto
O meu coração, atormentado e cruento
Se torna num efeminado plangente.

Não, não são dislates,
É este desamoroso amor
Que dia a dia recrudesce.

Mas tu, tirana, nem notas
Quanto os meus olhos são círios
Cuja eupatia os transformam, por ora,
Numa apenas ténue luz.

E tu, encasulada qual crisálida,
Cobrindo pudicamente
Teu púbis de encacho,
Numa lutulenta felonia
Verborreias balestilhas
Como se o sustentáculo
Da minha paixão
Fosse um cagalhão de concupiscência.

segunda-feira, 18 de março de 2013

38. K uma letra no joKer




Joker

Quando achares que te vejo com os olhos que te não vejo,
Ou pensares que me afasto, mesmo se a proximidade do teu corpo me incendeia.
Quando quiseres que me vá sem que eu não queira partir
ou os teus olhos embaçarem quando os meus cruzarem os teus.
Quando renegares as minhas eternas juras de amor
ou recusares os meus lábios na sofreguidão de um beijo.
Quando desatares nas tuas pernas os apertados nós das minhas
ou te secarem as coxas na virilidade da minha presença.
Quando ficares indiferente às súplicas do meu beijo
ou teimares em ir quando te reclamo aqui.
Sentir-me-ei apenas uma carta fora do baralho.

sexta-feira, 1 de março de 2013

37. J de Jangada





Jangada

Pulei vales, subi montes,
Corri por estradas vazias
Bebi água em secas fontes
Perdi noites, ganhei dias.

Cercas de arame farpado
Por todas elas passei,
Quantas vezes dilacerado
Foi meu corpo, já não sei.

Não hesitei na viagem
Com medo de te perder
Mas era apenas miragem
Nunca mais te ia ter

Construí uma jangada
Por isso me fiz ao mar,
Perdido, não tenho nada
Só a saudade de te amar.