terça-feira, 29 de janeiro de 2013

30. C de cornos



Cornos

Dizem que o pobre Manel
era um artista em marrada,
briga na rua ou bordel
ia tudo à cabeçada.

Força tinha no pescoço
cartava água à chinesa,
fazia-o já desde moço
e fazia-o com firmeza.

Só não gostava da alcunha
que lhe botaram miúdo,
o Tomás é testemunha,
chamavam-lhe cabeçudo

Tomás o melhor amigo
com o Manel a disputou.
Francelina, ai que castigo,
foi ao Manel que calhou.

Passados tempos então,
a Lina deu-se a Tomás
Manel com um cabeção
Foi-se a ele zás, catrapás.

Deu-lhe tamanha marrada
que se gritava, Ai Jesus.
E diz Francelina, pasmada
"Tu tens uns cornos de truz!"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

29. B de belo



Belo

O azul resplandecente do mar,
O canto do rouxinol,
“As Três Graças” de Rafael,
O nascimento de um filho,
A quinta sinfonia de Beethoven,
O esplendoroso monte Fuji,
Uma trovoada sobre o Índico,
Callas cantando “Die Walküre”,
A metamorfose de uma Monarca,
O vibrar de um Stradivarius,
Uma aurora boreal,
Um campo de girassóis no Alentejo,
A lua-de-mel,
O bolero tocado pelo sax de Jurandy,
Um crepúsculo no Taj Mahal,
Uma orquídea selvagem,
Somewhere over the rainbow,
Um golo de Eusébio,
O vestido de noiva de Diana Spencer,
As pernas da Beyoncé,
O dia da libertação de Nelson Mandela,
“A Criação de Adão” de Miguel Ângelo,
Os jardins suspensos da Babilonia,
O Machu Pichu,
Um botão de rosa amarela,
“O meu pé de laranja-lima”
E o teu sorriso.



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

28. A de Arder



Arde em meu peito


Arde em meu peito
A insaciável loucura
Da paixão.
Arde em meu peito
A flâmula incontrolável
Da loucura.
Arde em meu peito
A doçura cintilante
Da flâmula.
Arde em meu peito
A gulosa carícia
Da doçura.
Arde em meu peito
A desesperante espera
De uma carícia.
Arde em meu peito
O anseio do fim
De uma espera.
Arde em meu peito
O sufocante desespero
Do fim.
Arde em meu peito
A paixão,
A loucura,
A flâmula,
O desespero,
O fim.
Arde em meu peito.
Arde.


sábado, 19 de janeiro de 2013

27. Z de Zurzir





Zurza

Não te podem chamar zabaneira
apenas porque zabumbas te anunciam
em teus zebrais indumentos.
Eras uma simples zagala quando te conheci
E de mim ébrio de zegre
como um zeimão, um sem-cabeça,
zelaste, sem intenções segundas.
Zaralhas e zarelhas tentam destruir
os zambujais que juntos construímos,
mas a nossa relação está no zénite.
Zoilos e zoilas!
Não passam de reles zoilos e zoilas,
Zombemos deles pois não são mais que zigotos
E riremos.
Riremos até que nos apelidem de zotes.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

25. X de Xávega



Xávega



Eles fazem os dias assim.
Remendam xávegas de agulha em riste
Aprontam artes pra colher o pão,
Lavram o mar, semeiam lutos,
Regressam ou não.

Eles fazem os dias assim.
Enfrentam tormentas, grandes desafios
Cercam a seara que lhes dá o pão,
Ao sol ou à chuva, no dilacerante vento.
Regressam ou não.

Eles fazem os dias assim.
Viúvas na praia já não choram homem
Agora os cadilhos saíram do ventre
Tormentos dobrados, aqueles que são.
Regressam ou não.

Nas redes em terra, do mar tragados
Crepitam badejos, sardinhas, pimpões
Da barriga ao saco se acolhem, amassam.
Eles fazem os dias assim.
Regressaram, sim.


domingo, 13 de janeiro de 2013

24. W de Windows



Foto tirada no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo (2012) numa sala de aprendizagem de informática para seniores.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

22. U de uso





Usa-me sempre!


Usa-me!
Hoje não quero afeto,
Não quero amor,
Não quero paixão.
Usa-me!
Deixa que o laxismo te tolde
De imoralidades mil,
De desejos mais.
Usa-me!
Faz de mim teu objeto
Perdido
Que um dia achaste,
Teu brinquedo novo,
Teu brinco de uma orelha só,
Teu perfume.
Usa-me!
Usa-me,
Como se eu fosse o teu
Presente de aniversário
A tua fronha de almofada,
O sabão que te afaga a pele.
Usa-me!
Sou o teu cinto-liga,
Sou a tua blusa,
Sou o teu batom.
Sou teu anel,
Tua gargantilha
Teu rimmel,
Teu blush,
Teu rubi,
Tua ametista.
Usa-me!
Usa-me sempre,
Usa-me sempre,
Usa-me em cada dia.
Mas hoje,
Só hoje,
Abusa-me!

sábado, 5 de janeiro de 2013

21. T de Teia




Teia

De sedosos fios me enleias
Em caçador capricho.
Atenta, paciente esperas
Que distraído caia no teu enredo.
Depois, insaciável,
Atacas.
Testas-me sem nunca me libertares
E devoras-me.
E eu, passivo, assisto ao meu fim.
Não tenho meios para me libertar,
Nem quero.
Aranha dos meus sonhos,
Extasiantes momentos
De lascívia, de insana luxúria.
Quero apenas ser a tua presa.