sábado, 29 de dezembro de 2012

19. R de Revisitar





Vinicius revisitado

Há alguém que me lê na calada da noite
e a mim não me conhece, tão pouco sabe se existo.
Só as letras existem.

Há alguém que me lê na calada da noite,
os meus versos recita e de mim não conhece
a não ser as letras.

Há alguém que me lê na calada da noite
e compõe breves notas a que junta harmonia
às letras que existem.

Mas, se alguém que me lê na calada da noite
as letras quiser beber… pode bebê-las!
E não me interessa quem.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

18. Q de Quero



Quero


Não, não quero
Escutar os teus silêncios,
Quando por entre as frinchas da janela
Te envolves com a mudez das nuvens passantes.

Não, não quero
Ser ombro dado às tuas mágoas,
Quando por entre as frestas do portão
Inundas os meus passos na lacrimejante lamúria dos teus dias.

Não, não quero
Ser coito de teus ciúmes,
Quando nas páginas do teu diário
Esganas as entranhas na insegura caligrafia das palavras.

Não, não quero
Ser o alvo da tua fúria
Quando me apontas flechas
De irada e demencial verve dos zelos da paixão.

Apenas quero
Ser o recetáculo dos teus gemidos
Quando tu te entregas
Na desenfreada loucura do conjugal dossel.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

17. P de Passagem



Passagem

Procuro-te na voraz passagem
E perco-me em oceanos de segundos.
Porque és tão cruel relógio do meu batimento
Oleado e síncrono
Que nunca te enganas sobre o teu cristal?
Fios de prata desalinhados na minha melena,
Outrora negra, testemunham-te, ponteiro.
Voraz e cruel, porquê te rebatizar?
Nem na caixa dos sinónimos, nem na bolsa dos adjetivos
Nem por figuras de estilo te troco.
Voraz e cruel, sim. Voraz e cruel.
E no entanto, na minha rugosa pele,
Hepáticas manchas epidérmicas,
Orgulham-se de ti.
Só tu, tempo, só tu, voraz sepulcro de instantes,
Só tu, cruel relicário de momentos,
Só tu és a passagem onde me perco
À procura do inatingível retorno.


sábado, 22 de dezembro de 2012

16. O de Orgulho



Orgulho

Ainda a matinal névoa se levanta e já te abraço.
Sinto no coração o gelado frio
que a tua indiferença inverna no meu peito.
Serves-me vingança!
Serves-me-la fria, quão fria ela de si é,
apenas porque o meu olhar se desviou
quando teus olhos, inadvertidos, de mim precisavam.
Sei que às vezes de azedume são meus dias
E sofro.
E choro por isso e me arrependo.
Mas não me quedo de joelhos
que amor não é submisso.
Espero que o tempo se alie aos ventos
e te sopre a dor e a raiva e teus olhos brilhem
de novo.
Eu vou esperar.
De egoísta oráculo, consultas mil me obrigam
a não curvar minha espinha,
as minhas lágrimas esconder,
a minha tez imota se ficar,
estátua fria, tão fria quanto a tua indiferença.
Mas meu coração sangra.
Suspiro de ti e esmago o orgulho,
o vil orgulho.
Ide-te infame!
E, pela madrugada,
ainda a matinal névoa se levanta,
Já te abraço.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

15. N de Navegar





Navegar

Hoje, madrugada transparente e brilhante,
Fiz-me ao mar, nas caravelas da vida.

Velas brancas, fizeram o barco navegar rápido
Sentindo o vento nos meus cabelos, que me afaga levemente.
Olho o céu, beleza azul que se mistura com o oceano
O sol cumprimenta-me e acompanha a viagem.

As gaivotas em voos calmos, sobrevoam o meu sentir.
Navego sem rumo, fecho os olhos, cheiro o mar,
Ouço o silêncio e desejo permanecer.

Absorta, imprimo na alma esta beleza natural
Voltarei, ficarei, só o meu desejo ditará-


Cecília VilasBoas in Âmbar e Mel, Chiado Editora, 2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

14. M de Mar



Amo te amar

E é tão prateada a tua voz
Quanto são de prata as ondas do mar.

E se cantas,
São as sereias que escuto no seu meloso trinado.

Quando te achegas,
É o marinho perfume que me agita os sentidos.

O teu deitar
Tem a beleza do pôr-do-sol.

Quando fazes amor
É como se o mar galgasse a muralha.

E quando adormeces, os ventos sossegam
E a brisa acalma os oceanos.



quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

13. L de limão



Chora, Mariquinhas, chora,
Chora que o limão não vem!
Que o limão por quem tu choras,
Já fez chorar tua mãe!

Amália Rodrigues


Se uma cebola fora eu não teria como duvidar. No entanto não caberia na letra  L.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

12. K de Koala



O K aparece no alfabeto português, aumentado de 23 para 26 letras, a par do Y e do W, por via do novo acordo ortográfico. Na realidade esta letra já tinha sido adotada pelos portugueses, nomeadamente os mais jovens, há bué (este termo não tem nada a ver com o último AO, no entanto foi integrado pela Academia das Ciências de Lisboa, na sua última edição do dicionário completo da língua portuguesa. Nesta versão do dicionário o acordo adotado para a grafia foi o acordo luso-brasileiro de 1945, cuja aplicação em Portugal só se viria a consumar em 1971 e no Brasil, parece que nunca), principalmente depois da explosão dos telefones celulares, que em Portugal são conhecidos como telemóveis, nas mensagens curtas, vulgo SMS.
X ñ akraditax bute lá um sms keu rexpondo komo kiser, mano.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

11. J de janela



Abre-me e espreita o mundo.
Grita as tuas angústias
Ou faz o mais belo sorriso à manhã que te invade.
Eu sou o veículo de par em par.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

10. I de Idiossincrasia



As minhas também se vêem em pequenos gestos. Por exemplo, no de clicar o disparador da máquina fotográfica.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

9 H de Humidade







Humidade

Atrevo-me a mergulhar em teu corpo,
E sobre ele derramar como imparável cascata
um turbilhão de ternos beijos
e de suaves carícias.

Todos quantos versos rabiscam
em belas poesias ou meros relatos
de sensualidade, transbordantes,
ou de erotismos fátuos, plenos,
já o relataram em impúdicas denúncias.

É arte de macho mergulhar no corpo
da sua fêmea;
É dever de amante inundá-lo de beijos ternos
De incontáveis carícias. Mais de mil;
É obra da musa que o poeta o cante em verso.
Mas contrariando aquela que toda a pena conduz,
quiseram  no Olimpo deuses e nos céus Arcanjos
que eu fora melhor amante
que poeta de belas palavras redator.
Não quis Erato 
que eu soubesse descrever, feita poesia, quão ternos
os ósculos foram, qual imensidão era a do lago
que sobre ti derramava beijos, mas onde não cabiam
as carícias que fossem para lá de mil.

Mas quiseram Serafins, na sua infinita bondade
Que Afrodite te acompanhasse quando
o teu corpo hirtasse
teus mamilos entumecessem
teus pelos se eriçassem
teu coração explodisse
em lancinante, de prazer, gemido,
quando em quentes humidades
de férteis fluidos fosses, por
teu amante macho, inundada. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

8. G de gente



Gente
Há gente que passa na vida da gente e a gente nem sente.
Há gente que passa na frente da gente e a gente não gosta.
Há gente que a gente quer que seja parte da vida da gente.
Há gente que sente que a gente não gosta desse tipo de gente.
Há parte de gente que gosta de se sentir parte da gente.
Há gente de frente que pensa que sente que a gente não sente.
Há gente que sente o tipo que parte e não passa na frente.
Há gostos que a gente não sente e que partem em frente.
Há gente que a gente sente que a gente gosta e que em frente da gente a gente é gente.


domingo, 9 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

6. E de êxtase



Absorção
Arrebatamento
Arroubo
Assombro
Embevecimento
Encantamento
Encanto
Endeusamento
Enleio
Enlevo
Espasmo
Pasmo
Rapto
Suspensão
Transportamento
Transporte


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

5. D de dedo, d de dado.



Dado, dedo; o dedo da Didi doi; dá o dado ao Daniel.
Era assim, Foi assim. D de dado. D de dedo.
E o doidoi no dedo do Dinis.
Uma cantata.

Dedos que dedilham acordes; outras melodias; outras músicas.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

4. C de cor


C de cravo
C de Carnaval
C de comuna
C de compulsivo
C de camarão
C de conchego
C de contemplação
C de Cristo
C de coração
C de cor

Que a vossa vida seja tão bela quanto o arco-íris


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

3. B de Baco


Findaram as vindimas, o outono encheu de cor as parras das videiras e já se sente o aroma do vinho novo.

domingo, 2 de dezembro de 2012

2. A de Abraço



Abraço-vos.
A cada um de vós, abraço-vos.
A cada uma de vós, abraço-vos.
É tão bom sentir o aconchego de um abraço.
Um beijo de circunstância, é bonito.
Um sacudir de mão, é educado.
Um abraço é calor. Um abraço é… um abraço.


sábado, 1 de dezembro de 2012

1. Introdução

Este é o meu novo blog. Um fotoblog. Em cada mês, tentarei publicar 26 fotos. De A a Z. Espero que gostem. A de hoje não conta para a série.